quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012


História do Concurso Completo de Equitação no Brasil

     O CCE foi introduzido no Brasil pelos mestres de equitação de Saumur, integrantes da Missão Militar Francesa, que chegaram ao Rio de Janeiro em 1920 para transmitir ensinamentos equestres aos militares. Durante cerca de meio século a modalidade foi desenvolvida e praticada quase que exclusivamente por integrantes do Exército Brasileiro.

     Na década de 50, alguns civis apresentaram-se em competições desta modalidade e, a partir de 1970, o número de participantes aumentou significativamente, destacando-se inicialmente o contingente do Clube Hípico de Santo Amaro, orientado pelo General Joaquim Portinho.

     O primeiro Campeonato de CCE foi disputado em 1922 e organizado pelo Exército. Naquela época ainda chamava-se Cavalo D'Armas (Military, para os alemães e Three Days Event ou Eventing, para os ingleses e americanos) e compreendia provas de adestramento, steeple-chase, fundo e salto, com duração de 4 dias. O campeão deste concurso pioneiro foi Aristóteles de Souza Dantas, que venceu as provas de steeple-chase, disputada no segundo dia, e de fundo, no terceiro. No adestramento, realizado no primeiro dia, venceu Antônio da Silva Rocha e, no salto, no quarto dia, Evaristo Marques da Silva foi o melhor.

     Até 1941, quando o nome mudou definitivamente para Concurso Completo de Equitação e as provas passaram a ser disputadas pelo regulamento da Federação Equestre Internacional (FEI), muitos campeonatos foram realizados, ainda pelo Exército. Os maiores vencedores nesse período, com duas vitórias cada um, foram os conjuntos Franco Pontes/Ebro, Joaquim Portinho/Tigre, Eloy Menezes/Apa e Muniz de Aragão/Amigo.

     O conjunto formado por Aristóteles de Souza Dantas/Dardo venceu o campeonato de 1941, seguido pelos conjuntos Anísio Rocha/Kirck, e Geraldo da Silva Rocha/Rigoleto.

     A reabertura da Escola de Equitação do Exército, em 1946, propiciou interesse redobrado pelo CCE e apreciável aumento do número de concorrentes.

     A primeira participação de uma equipe de CCE em Jogos Olímpicos ocorreu em Londres, em 1948. O país foi representado por Anísio Rocha/Sahib, Aécio Morrot/Guapo e Renyldo Ferreira/Índio. Morrot terminou na sétima colocação, segundo melhor resultado olímpico individual obtido até hoje por um cavaleiro brasileiro (O primeiro é de Rodrigo Pessoa/Baloubet du Rouet, em Atenas 2004). Três anos depois de participar da Olimpíada de Londres, Anísio Rocha/Adonis obteve o quarto lugar nos jogos Pan-Americanos de Buenos Aires.

     Em 1952, surge o cavaleiro que é até hoje, o expoente máximo do CCE no Brasil: Péricles Cavalcanti. Treze vezes campeão e sete vezes vice Brasileiro; vice campeão no Sul Americano de Buenos Aires, em 1977; vencedor de inúmeros Campeonatos do Exército e importantes torneios internacionais, não só de CCE como de salto, Péricles também participou, sempre com categoria e determinação peculiares dos Jogos Olímpicos de Helsinque, em 1952, do Pan Americano de Chicago, em 1959, e do Campeonato Mundial de Lexington (EUA), em 1978.


Capitão Péricles Cavalcanti em Helsinque (1952)


     Nas décadas de 50 e 60, além dos cavaleiros que disputaram o Pan de Chicago, em 59 - Péricles Cavalcanti, Jerônimo Fonseca e o Tenente da Polícia Militar de São Paulo, Horácio Bonzon - destacaram-se, também, os integrantes da equipe no Pan-Americano de São Paulo, em 1963: Flávio De Marco, Nide Fico, Georgelino Cardoso e José Pimenta.

     Nos anos 70, ainda galopavam soberanos os militares. O capitão Ariel De Cunto foi vice brasileiro e Campeão do Exército, com Inhanduí; o Tenente Coronel Júlio Fournier, com Jota, venceu quatro vezes o Torneio Universidade Gama Filho e o imbatível e agora Coronel, Péricles Cavalcanti, sagrou-se campeão brasileiro em 1970, 74, 77 e 78.

Júlio Fournier com Jota

     Em 1980, o major Newton H. Ribeiro, Geraldo Meirelles (Diretor da Philips Morris) e o Cel Renyldo Ferreira estabeleceram um convênio, nos EUA, com os dirigentes de CCE americanos, oferecendo estágios de aperfeiçomento para brasileiros e patrocínio para o Torneio Malboro de CCE Internacional de Brasília. A iniciativa teve ótimos resultados. De 1980 a 84, o torneio reuniu equipes sulamericanas e cavaleiros norte americanos, europeus e neozelandeses.


Torneio Malboro de CCE Internacional de Brasília

     A partir de 1980, uma nova força começou a surgir no interir de São Paulo, onde cavaleiros civis praticavam um hipismo totalmente rural, com provas de rédeas, balizas e cross country. Alguns deles - Gil Rossetti, Nick Lunardelli, Olímpio Rossetti, Bruno Toldi, Cid Guardia, Ricardo Lenz César, Paulo Roberto Levy, Nelson Alipert Júnior e Ruy Leme da Fonseca - Fundaram a Associação Brasileira de Hipismo Rural (ABHiR), atualmente o maior núcleo de praticantes de CCE do Brasil.

     O primeiro civil a se destacar na prática do CCE foi João Carlos Cavalcanti, filho do campeoníssimo Coronel Péricles Cavalcanti. Por sua excelente qualificação técnica, representou o Brasil no Concours Complet Internacional de Saumur, na França, venceu o Hoornfat Farm Horse Trials, em Vermont, EUA, e o internacional de Punta del Este, no Uruguai, em 1983. Foi à Olimpíada de Los Angeles, em 1984, e ganhou os campeonatos Brasileiros de 1982 e 84.

João Carlos Cavalcanti com Soberano

     De 1979 a 1985, uma iniciativa do Major Pery Ismael Maciel tornou-se muito importante para o desenvolvimento da modalidade: o Projeto SeEd/MEC, que propiciou a formação de um grande grupo de praticantes de CCE, em Brasília, destacando-se Almir Vieira, campeão brasileiro de 1987.

     Na década de 80, além do Coronel Péricles Cavalcanti (campeão brasileiro de 1983 e 1986), Júlio Fournier, sobressaíram-se o Coronel Cyro Floriano Rivaldo (1985) e o Capitão Marcus Vinhas, participante do Concours Complet Internacional de Saumur, vitorioso em prova internacional realizada em Vermont e constante vencedor no País, com Picolino e Mr Chips. Júlio Fournier frequentou a United States Combined Trainning Association (USCTA), organização encarregada das provas One Day Event, que concentram em um só dia a disputa de Adestramento, cross country e salto, o que veio a facilitar o treinamento de competição do CCE.

Coronel Péricles Cavalcanti com Sereno


Capitão Marcus Vinhas e Picolino

     A partir de 1986, a ABHiR desenvolve um intenso trabalho para divulgar e estimular o ensino da disciplina. Também passa a contar com a competente colaboração de Júlio Fournier como instrutor de seus jovens cavaleiros e patrocina a vinda ao Brasil de consagrados competidores internacionais, veterinários, instrutores famosos e course designers, como o Capitão inglês Marck Philips, Martin Plewa (técnico da equipe alemã), Jeniffer Millan (Dirigente da FEI), Major Boylan (Juiz internacional), Erick Smile (cavaleiro da equipe irlandesa) e Carlos Moratório (cavaleiro argentino de renome internacional). Coroando todo esse trabalho, no Concurso Completo Internacional realizado nas magníficas instalações do Parque General Osorio, em Osorio (RS), em 1988, já fazem parte da equipe brasileira os civis Gil Rossetti, Serguei Forfanoff e Ademir de Oliveira.

     Expressivas vitórias consagram as equipes apoiadas apoiadas pela CBH em disputas nacionais e internacionais (Montevidéu, Santiago do Chile, Buenos Aires, Avaré e Porto Alegre), nos anos 90. Sobressaem-se alguns feitos: a conquista de Serguei Forfanoff/Éden, André Giovanini/Aldo Belo, Luciano Drubin/Chilena, e Ruy Leme da Fonseca Filho/Man Friday, treinados pleo Coronel Cyro (Campeão brasileiro em 88, com Sereno, em Avaré e Campeão do Exército em 93 com Jonathan, em Resende), da medalha de ouro por equipes, à frente da poderosa equipe norte americana, e do terceiro lugar individual por André Giovanini/Aldo Belo, no Pan-Americano de Mar del Plata, em 1995. Outro destaque foi o décimo lugar, no Campeonato Mundial de 1998, na Itália, da equipe brasileira, com Carlos Eduardo Paro, André Paro, Marcelo Tozzi e Márcio Carvalho Jorge.

     Desnecessário salientar a busca incansável do crescimento e aperfeiçoamento, a luta incessante visando a novos feitos grandiosos que virão, certamente, coroar o esforço de nossos cavaleiros, cavalos e de seus dirigentes.


Texto extraído do livro "História do Hipismo Brasileiro", do Coronel Renyldo Ferreira (Editora Antonio Bellini - SP- 1999);
Fotografias:  do livro "História do Hipismo Brasileiro" e arquivo pessoal de Alex Titan;
Adaptações: Alex Titan

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