A carreira foi o esporte e o jogo de preferência do homem do pampa.
Fazia parte tanto de negócios que envolviam grandes somas de dinheiro como das
brincadeiras telúricas.
Os ginetes, em pleno campo, se desafiavam. Muitas vezes, no retorno das
campeiradas, tiravam cismas de quem possuía o cavalo mais rápido. Todavia, no
geral, "atavam" carreiras para datas específicas, geralmente aos
domingos.
Nos primeiros tempos, as carreiras eram disputadas com os cavalos de
trabalho, os crioulos. Esses eqüinos, de origem ibérica possuíam grande
predominância de sangue árabe. Com o passar dos séculos, foram apurados e
terminaram se definindo como raça específica do Cone Sul e muito valorizada nas
atividades de pastoreio.
Os carreiristas sempre preferiam a "cancha reta", de metragem
não muito longa. O percurso podia ser de 260 a 400 metros. Com o hábito das
carreiras e invariavelmente com o volume de dinheiro envolvido no jogo, a
atividade também se transformou em negócio. A paixão de muitos homens pelas
carreiras provocou a perda de grandes fortunas: rebanhos e até estâncias.
Conta-se que os gaúchos chegavam a apostar as próprias mulheres.
Até hoje, no pampa, chama-se o treinador de cavalo de
"compositor". Eles definiam os alimentos e os exercícios básicos dos
animais. Alimentavam-nos com milho e alfafa fenada. Aplicavam-lhes banhos.
Treinavam arrancadas e corridas para deixá-los fortes e velozes.
Os animais destinados às carreiras passaram a ser chamados também de
parelheiros porque eram comuns as disputas feitas entre dois animais, em
parelhas. Quando corriam em maior número, chamavam a carreira de
"penca", ou califórnia. Ir às pencas, no Sul, significava, ainda, ir
até onde ocorriam as carreiras.
Nos dias de "carreira atada", os crioulos chegavam
cabrestrados, cobertos de lindas capas, no geral, coloridas. Todavia, fazia
parte da picardia dos jogadores "enfeiarem" os cavalos, sujando-os,
desfigurando-lhes os rabos, dando-lhes certo visual de pangarés, para que os
adversários não percebessem seus reais valores.
Nas carreiradas, os habitantes da região tomavam conta dos dois lados da
cancha. E, ali, passavam o dia. Os bolicheiros armavam ramadas para vender
bebidas e comidas. Assava-se churrascos. Aproveitava-se para rever conhecidos,
saber das notícias e, nesse ambiente de jogo e convívio social, os jovens
aproveitavam para os namoros.
De preferência, as canchas eram trilhadas nas várzeas, com árvores para
a sombra e lenha para o fogo, e com um rio ou um arroio correndo perto.
Além das carreiras contratadas com antecedência, os donos de parelheiros
se desafiavam em plena cancha. Costumeiramente, alguém quando acreditava na
imbatividade de seu cavalo, fazia-o desfilar, gritando: "Sem
reserva!", isto é, na linguagem carteirista ele estava disposto a correr
contra qualquer animal naquele momento, e a aposta não tinha limite.
O Povo do Pampa, Tau Golin editora Sulina - EDIUPF
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