sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Curiosidades...


PÊLOS DE CAVALOS
 
     Os gaúchos do passado atribuíam certas qualidades e defeitos de cavalos a determinados pêlos, idéia que tem fundamento na genética. A sabedoria popular está embasada na experiência. Há pelagens que não existem em determinadas raças. Assim como um zulu não pode ter cabelos louros e olhos azuis, nunca um puro-sangue inglês pode ter o pêlo baio. Preferiam os tostados, os zainos, os alazões, os tordilhos, os mouros. E desconfiavam dos cavalos pintados, dos tobianos, “desses que se vende por bom preço só por terem o pêlo pintado”(Ramiro Barcelos). Não existe árabe chita.
      O antigo gaúcho não apreciava, para o seu andar, o cavalo tobiano. Nunca se viu um tobiano macio de marcha como é o mangalarga, o árabe, o andaluz, o crioulo. Preferia usá-lo para tracionar veículos leves. Zeno e Rui Cardoso Nunes afirmam que o nome provém da pelagem da montaria predileta do Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, de Sorocaba. Daí o nome: Tobias - tobiano. Outras fontes informam que este tal de Brigadeiro Tobias usava cavalos com esta pelagem para puxar a sua charrete, e não como montaria. Justificaria a idéia do antigo gaúcho de que nunca um tobiano deu bom de sela.
      Apesar do baio ser muito apreciado, havia certa prevenção contra este pêlo. “Quando enxergares alguém com os arreios às costas, pergunta onde ficou o baio”, caçoavam. Provavelmente, a redenção veio dos excelentes cavalos crioulos, principalmente chilenos e uruguaios, onde esta pelagem é comum, não sendo nenhum desdouro. Pelo contrário: alguns baios crioulos sagraram-se campeões de provas de serviço e rédeas, comparáveis aos “quarter horse” dos norte-americanos. Certamente isto se deve ao aprimoramento racial, mas também à doma racional onde o açúcar tem mais importância que o chicote.
      O mesmo acontecia com o gado: todo o mundo sabe que o leite mais gordo é o das vacas brasinas e barrosas. Talvez seja alguma herança genética da búfala, da normanda e da jérsey, todas de pêlo avermelhado, produtoras de leites com grande proporção de proteína e gordura.
      Essa idéia da influência do pêlo sobre o caráter também se estendia ao cães e às galinhas. Cães com o céu da boca negro era sinal de brabeza. Os galos de rinha batarás - (carijós) - eram considerados covardes, que fugiam das rinhas. Devem ter algum resquício de sangue dos pacíficos Leghorn. Ninguém apostava neles porque não eram de confiança como os oscos (vermelhos), os prateados, os pretos, os pintados que morriam brigando, mesmo desbicados e totalmente cegos dos dois olhos, bicando o ar até morrer. O galo de rinha é o exemplo máximo de valentia - nem o leão é tão valente! - que inspirou poetas como o grande Jayme Caetano Braum: “E só me resta o conforto / Como a ti, galo de rinha, / Que se alguém dobrar-me a espinha / Há de ser depois de morto!” Valente assim, só sendo natural da Timbaúva, os pagos natais do Caetano Braun!
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