quarta-feira, 15 de maio de 2013



HISTÓRIAS, CONTOS, MISTÉRIOS E LENDAS DE JAGUARÃO


UM CEMITÉRIO NO CENTRO DA CIDADE

Fazendo uma viagem ao passado, lá pelos anos 30/40, época que Jaguarão tinha como cidade os limites sul a norte, do rio Jaguarão até a rua 24 de Maio, lateral da escola Joaquim Caetano e como limite leste oeste, a rua dos Andradas até a rua dos trilhos, rua Uruguai.

O restante chamavam de aldeia ou subúrbio. Até pouco tempo existiu o armazém "Clarão da Aldeia" do Sr. Álvaro Gonçalves ou Doca (Rua General Câmara esquina Coronel de Deus Dias). Porque Clarão da Aldeia? Bom, além da rua dos Andradas, já era aldeia e não possuía luz elétrica, seu Doca conseguiu com o Prefeito Dr. Hermes Pintos Affonso, para puxar por sua conta, um fio elétrico até a esquina, onde colocou uma lâmpada de 1.000 wats, fazendo um enorme clarão na escura aldeia. Todas as noites os moradores diziam: Vamos conversar lá no clarão da aldeia, dando nome ao armazém.

Bem perto dali, existiu as ruínas de um cemitério que na época já haviam algumas edificações em cima desse terreno dando frente para a rua Marechal Deodoro. A família Figueiró, a fábrica de fumos Mauá Ltda, e a família do seu Vigica.
No restante ficava um campo com pastiçal, taquaral, muitos túmulos e uma enorme pileta onde lavavam os ossos. O cemitério abrangia todo quarteirão que hoje está cortado pela rua Marechal Rondon.

Era grande a gurizada que brincava na rua dos Andradas. Os meninos jogavam futebol e as meninas passa-passará. Durante a noite brincavam de pega ladrão ou pedra livre entrando no cemitério para esconderijo. Mas toda vizinhança tinha medo das assombrações que eram comuns aparecerem para espanto e comentário em toda cidade. Apareciam muitas coisas de arrepiar, mas algumas eram de brincadeira. Por exemplo: O Pedro, filho do Mariano Rocha e irmão do falecido Vanderlei (Escritório Rocha), recortava numa melancia, uma boca e dois olhos, acendia uma vela dentro e, colocava sobre um túmulo. Sua irmã, a Dalva, cobria-se com um lençol branco e corria entre as taquaras. Era um pavor.
Hoje a quadra está cheia de casas, mas nas escavações de todas elas, tiraram vários esqueletos. Em uma delas havia um esqueleto até com uma arma do lado.

Pelos relatos do Sr. Cláudio Rota Rodrigues que leu nos arquivos do Instituto Histórico e Geográfico de Jaguarão, em 23 de novembro de 1855, quando a vila foi elevada a  categoria de cidade, surgiu um caso de cólera um cidadão que havia chegado embarcado, e que este alastrou uma epidemia violenta, matando um terço da população, ou seja, entre 3 a 4 mil mortos. Com essa epidemia superlotou o tal cemitério encerrando as atividades de campo-santo.

As irmãs de Caridade haviam comprado um campo para fazerem um cemitério, mas com a mortandade que houve, começaram a enterrar pessoas antes de iniciarem as obras do atual cemitério das Irmandades.
Perto da BR 116, imediações do secador do Sr. Moacir Bretanha, abriram um grande valo onde amontoavam os corpos trazidos por carroças que percorriam a cidade juntando defuntos.
Os fazendeiros, chacreiros e familiares fugiam para os campos evitando a doença.

O Sr. Malaguês que morou por muitos anos até a fábrica de fumo incendiar, diz que tanto ele como os empregados e moças que trabalharam no turno da noite, viam assombrações.
Já outros moradores no local perto do antigo cemitério relatam que viam constantemente, um vulto passear por toda a casa e desaparecer sem abrir portas nem janelas.




A VOLTA DO NEGRO MORTO

Numa das curvas que o Rio Jaguarão dá, antes de se abraçar com a Laguna Mirim, existe um local muito fundo, mais de 10 metros!... É a volta (no sentido de curva, ou geograficamente falando: meandro) do Negro Morto.
Contava uma “tia-velha” benzedeira em que os tempos, naquele corpo franzino, haviam parado. Dizem que falava com os passarinhos. Fumava palheiro e bebia suas cachacinhas; benzia tudo: espinhela caída, dor de amor, asma, mau olhado e temporal. Só para ficar no varejo!
Suas rezas levantavam cavalo velho, homem já com “aquilo” roto ou nuvem de gafanhoto- que naqueles tempos eram freqüentes. Era conhecida por Siá Severina. Morava na beira do rio.
Ela contava o causo do tal negro morto, medindo as palavras. Entre uma baforada e outra do "crioulo". Os bracinhos negros e frágeis da velha gesticulavam, dando uma ênfase maior ao causo.
Falava ela que, naqueles tempos, quando ainda havia escravidão no Brasil, muitos negros tentavam fugir para o Uruguai, pois naquele país essa chaga já havia sido sarada.
Um escravo, que ela não se lembrava do nome, tentou buscar a liberdade exatamente naquela local. Seu senhor, juntando uns agregados partiu, em busca do fujão.
Vendo-se perdido o escravo tomou a decisão: liberdade ou morte! E atirou-se no rio Jaguarão. Era um homem forte; nadava vigorosamente... As balas sibilavam a sua volta...
Infelizmente a liberdade cobrou seu preço. Estava do outro lado, porém com várias balas no corpo. Embaixo de um grande salso, na areia quente e com o zumbido das mutucas agonizou por horas... Até morrer. Seu corpo ficou ali, virando repasto das feras e abutres.
Poucas pessoas se aventuram a pescar naquele local, pois dizem que o tal escravo, o negro morto, que ficou insepulto aparece em noite de lua cheia pedindo para que seu corpo ganhe uma sepultura cristã.


O TESOURO DE GARIBALDI

Essa estória escutei à beira de fogão a lenha. Contada por tias-avós; em noite de lua cheia; geada branqueando os campos... Frio de rachar! Muito chimarrão, para os homens; para as mulheres mate doce, com muita erva de chá: manzanilha, carqueja ou funcho. Nós crianças, acocoradas aqui e ali, somente olhávamos... Tal bebida nos era proibida; e escutávamos as conversas dos mais velhos. Olhos esbugalhados! Corações em sobressaltos, ainda mais quando caia alguma semente de “ocalito” sobre o telhado de zinco...
Mas vamos ao caso: a República Juliana fenecia. Garibaldi, junto com Anita resolveram emigrar para a Banda Oriental do Uruguai. A sorte estava virando para o lado dos monarquistas; estes tinham olhos e ouvidos por todos os rincões do Pampa.
Garibaldi consegue chegar até a fronteira, mas informado por amigos republicanos, resolve não fazer pouso em Jaguarão, pois sua presença, na cidade seria notada. Era muito perigoso, tão importante figura farroupilha cair em mãos imperiais. Melhor seria cruzar o rio num lugar mais distante e ermo, convenceram-lhe os amigos. O Passo do Centurião era o lugar perfeito para tal peripécia... Dali, Melo estava a algumas léguas...
O “passo” era,e felizmente ainda é, um local agreste e luxuriante, com mato muito fechado e, dizem com muita cobra urutú, a “cruzeira” "de los gauchos", de bote curto e certeiro. Havia também, para facilitar as montarias, um “empedrado” natural, típico “camino de los quileros”. Gente meio brasileiro, meu oriental, que desde que o mundo é mundo conheciam cada curva, cada camalote ou cada ilha do rio.
Mas Garibaldi foi descoberto. Com os imperiais em seus encalços, desesperado enterra todo seu dinheiro e pertences de valor - dizem que inclusive uma bandeira da República Rio-Grandense, presente do general Bento Gonçalves- em três grandes panelas de ferro e vadeia, junto com Anita o Jaguarão, somente com a roupa do corpo...
O tempo passou. Após escaramuças no Uruguai, Garibaldi toma o rumo da Europa, em direção a sua querida Itália, que nesse tempo ainda era composta de vários reinos, para participar de sua unificação. Bom, mas isso é outra história!
Passaram-se os anos e um dia, um pobre gaudério, que procurava uma rês desgarrada, achou numa das grotas mais perdidas do Passo do Centurião, junto ao pé de um velho e grande jerivá, semi enterrada, uma grande panela de ferro com muitas moedas de ouro! Era parte do tesouro de Garibaldi!
O sortudo mudou de vida! Comprou terras... Uma boa ponta de gado, Cavalo de patrão para ele e seus dois filhos.
A notícia do enriquecimento correu mundo. Um vizinho, homem “maleva”, inescrupuloso, de uma inveja medonha e com vários crimes nas costas, armou, junto com outros de sua laia, uma cilada para o estancieiro e seus filhos. Toda a espécie de judiaria e torturas fizeram com eles, para que confessassem! Onde estavam as outras duas panelas de ferro?
Se, conheciam onde elas se encontravam, o segredo morreu com os três...
Os corpos foram atirados num “perau” e viraram comida de peixe...
Contam que ainda hoje em noite de lua nova, três luzes vagueiam por entre os sarandís, que nascem junto as pedras do Passo do Centurião. Serão as almas dos três mortos guardando as outras duas panelas de ferro com o tesouro ou estarão elas, clamando por justiça?


LENDAS DO RIO JAGUARÃO

O JAGUAR GRANDE





 

O nome do rio Jaguarão e da cidade homônima têm origem numa lenda indígena guarani.
Contavam os velhos pajés, quase em sussurros... Ao pé das grandes fogueiras... Em noite estrelada de verão... Cri-cri dos grilos e o clamar triste das corujas...
Naqueles tempos os guaranís eram donos desta terra. Não havia o homem branco com seu jeito difícil de lidar com a Mãe Terra... Yaguaru ou Yaguaron era um bicho horripilante, meio jaguar meio peixe. Do tamanho de um cavalo pequeno. Pêlo espesso como o da capivara. Boca crivada de dentes, como os da traíra; pontudos e afiados como os espinhos da coronilha. Tinha os olhos flamejantes que brilhavam na escuridão. Seu urro parecia sair das profundezas do inferno... Adorava ver correr sangue. Para tocaiar suas presas, homens, mulheres e até curumins, usava de um estratagema: com suas garras grandes como espadas, fazia enormes buracos, entre as barrancas; junto às margens do rio. Quando a vítima, incauta, passava por tal armadilha, seu peso fazia a mesma desabar. Era mais um desgraçado! Matava dois, três, quatro ou mais... Só por prazer. Comia, de algum deles, somente os pulmões. O bicho era o terror dos índios.
Os guaranis fizeram várias buscas para matá-lo. Procuraram, perto da nascente, no meio das pedras, junto aos camalotes e nada. Na mata fechada, que existia, naqueles tempos, perto da foz... Nem rastro... Até na Mirim andaram a procura do bicho!... Nada encontraram... O Yaguaru tinha sumido? Ninguém sabe... Talvez ele esteja nalguma barranca, nas curva do Rio Jaguarão, junto aos sarandizais esperando mais uma vítima.

sexta-feira, 10 de maio de 2013



10 de Maio - Dia da Cavalaria




O surgimento da guerra como choque de vontades determinou aos homens incansável busca por lutar com superioridade. Os guerreiros de outrora perceberam, enfim, a importância da situação em que se devia combater: criaram-se plataformas móveis e foram feitas associações aos animais de maior porte, obtendo-se, desse modo, decisiva vantagem em mobilidade e poder de choque. Tal avanço, em sânscrito, foi denominado "akva", origem da palavra “cavalaria”.
O caballus, palavra do latim, foi o animal que melhor encarnou essa forma de combater. Inicialmente empregado em carros de guerra ou bigas no Egito, Suméria e Roma, somente com sua montaria – em simbiose única na Natureza – gerou-se o mais formidável conjunto da História, sob o comando do Cavaleiro, monarca dos horizontes largos e desconhecidos.
A velocidade dos corcéis transformou a percepção humana do tempo e do espaço, expandiu consciências e, sob a égide equestre, uma plêiade de chefes militares fez impérios florescerem e ruírem: Alexandre Magno, Aníbal, Júlio César, Átila, Gengis Khan, Carlos Magno, Frederico II e Napoleão. Frederico II e Napoleão, de modo especial, empregaram magistralmente a Cavalaria, modulando suas missões clássicas de “reconhecer, cobrir, retardar, envolver e perseguir” consolidando-a, assim, como a Arma da Decisão.
No Brasil, as origens da Cavalaria ligam-se à organização do Regimento de Dragões Auxiliares, em Pernambuco, ao término da resistência contra os holandeses em Pernambuco, em meados do século XVII. Após a Independência, a Cavalaria Imperial produziu líderes de indiscutível valor, sintetizados na figura genial e eletrizante do digno patrono da Arma: Marechal Manuel Luis Osorio – Marquês do Herval.
O “Legendário” nasceu no seio de humilde família, a 10 de maio de 1808, na Vila de Nossa Senhora da Conceição do Arroio, Província do Rio Grande. Esse local – no atual município de Tramandaí (RS) – é hoje preservado como Parque Histórico, guardando, também, os despojos do Marechal. Osorio assentou praça na Cavalaria da Legião de São Paulo, aos quinze anos incompletos e teve seu batismo de fogo a 13 de maio de 1823, nos embates de consolidação da Independência.
Ainda alferes, durante a Guerra Cisplatina (1825-28), rompeu, de forma espetacular e audaz, o cerco inimigo em Sarandi (1825). Na Guerra contra Oribe e Rosas (1851-52), à frente do 2º Regimento de Cavalaria Ligeira, desempenhou importante papel em Monte Caseros (1852), sendo promovido a coronel por merecimento.
Intitulado “A Lança do Império”, consagrou-se na Guerra da Tríplice Aliança (1865-70), inicialmente como Comandante em Chefe das Forças de Terra, comandando o III Corpo de Exército e o I Exército na fase final. Sobressaiu-se, particularmente, nas batalhas de Passo da Pátria (1866) – sendo o primeiro soldado em solo paraguaio – e Tuiuti (1866) – maior embate campal da América do Sul. Também combateu em Humaitá e Avaí (1868) – quando, atingido no rosto, envolve-se em um poncho e percorre as linhas a galope, bradando: “Carreguem, camaradas! Acabem com este resto!”.
Herói, à frente de heróicos cavalarianos como Menna Barreto e Andrade Neves! Liderança incomum que magnetizava os soldados, mesmo argentinos e uruguaios. Modéstia e generosidade que cativava a todos, multiplicando sua bravura pelos campos onde se fazia presente. Em tempo de paz, Osorio desempenhou, ainda, profícua carreira política como Senador e Ministro da Guerra, vindo a falecer em pleno exercício desta função, no Rio de Janeiro, em 4 de outubro de 1879, aos setenta e um anos.
Tão grandiosos feitos militares, políticos e exemplos de conduta afirmam-no como modelo de soldado, líder, cavalariano e cidadão, alçando-o ao domínio da lenda, não obstante seu sincero desprendimento.

A inexorável evolução bélica, com os adventos da metralhadora (1893) e do carro blindado (1916), substituiu o cavalo por este como meio de combate. Desde a Segunda Guerra Mundial (1939-45) até as atuais guerras de movimento, não lineares, os blindados, síntese da ação de choque – proporcionada pela mobilidade, proteção e potência de fogo – reafirmam-se como senhores absolutos dos campos de batalha modernos.
A Cavalaria Brasileira – quer Hipomóvel, Mecanizada ou Blindada – inspirada pelo natalício do seu Patrono, o insigne Osorio, renova hoje o compromisso com o passado de glórias e o futuro de desafios, impelida pelo mesmo espírito cavaleiro do “Bravo dos Bravos”, com tudo o que ele compreende de decisão, lealdade e nobreza de atitudes.