quinta-feira, 29 de março de 2012

O JAGUARÃO

Havia, dizem, no nordeste da terra que ocupavam os indígenas guaranis, margem direita do atualmente Rio Uruguai um animal anfíbio, monstruoso.
Vivia pelos rios da região desde o Rio Paraná espalhando-se por toda a zona missioneira da Argentina, de onde teria entrado, também, no Rio Grande do Sul através do Uruguai e seus afluentes. Foi parar no extremo sul, hoje gaúcho, entre o rio que recebeu o nome de Jaguarão e afluente deste a costa da Lagoa Mirim.
Isto teria acontecido muito antes do aparecimento do branco europeu na vasta região em que vivia o tal monstro anfíbio. Dizem que seu nome era Jaguaru ou Jagua-Ron e tinha corpo de lobomarinho e cabeça e patas armadas de garras de tigre, sendo do tamanho de um cervo ou cavalo pequeno.
Esse monstro era o terror dos indígenas, não porque os atacasse, mas porque suas vítimas, homens ou animais, jamais podiam salvar-se. Os indígenas, entretanto, perseguiam-no sempre, mas nunca conseguiram caçá-lo.
Dizem que era um só que percorria toda a região e visitava todos os rios em cujas barrancas fazia grandes escavações. De modo a provocar o desbarrancamento das margens sempre que animais ou pessoas delas se aproximassem demasiado. A terra caída, assim, levava consigo o imprudente, jogando-o à água. Dali, em seguida o monstro o retirava e arrastava para outra escavação. Abria-o, então, tirava-lhe os pulmões, única coisa que aproveitava, e jogava o cadáver novamente no rio.
Segundo a lenda, existia anfíbios-monstros no atual Rio Jaguarão, o que ficava comprovado pelas escavações em suas barrancas e por um caso que nele se passou com um grande grupo de guaranis dissidentes das tribos do Rio Uruguai, ou Uruai, como diziam os antigos. Um dia, esse grupo da tribo guarani, depois de muito caminhar em busca de novas terras abundantes em caça e pesca, tendo atravessado o atual Rio Grande do Sul desde o Rio Mirim, resolveu acampar por Pindaí até as margens da lagoa, ali entre a lagoa e as margens do bonito rio que lançava nela suas águas cristalinas.  Certa noite, noite clara de luar, resolveram pescar longe do acampamento – a pequena ocara erguida entre os atuais Arroio Juncal e Rio Jaguarão, e foram para as margens deste, justamente onde cavara seu leito formando altas barrancas. E estavam por ali em busca do lugar melhor para lançar suas redes, quando um dos companheiros aproximou-se demasiadamente da barranca, sendo tragado pelo desbarrancamento. E logo após o desastre o monstro anfíbio avançou sobre a vítima, que ainda se debatia, abrindo suas entranhas, tirando os pulmões e após saboreá-los, jogando o indígena às águas novamente, dando-lhe, assim, sepultura Sagrada. A tribo, desesperada, tratou de se retirar, deixando, porém, como sinal de sua passagem o nome do monstro na designação do bonito rio.
E aí temos o porque do nome rio Jaguarão.
Mas o monstro apesar de tudo era símbolo da resistência, pois jamais alguém conseguiu abatê-lo.
Jaguarão é bem símbolo moderno da resistência e persistência do monstro que lhe deu o nome e, ao mesmo tempo, o pulmão da Fronteira Sul do Rio Grande, pulmão que, pelo seu fôlego, merece o título glorioso de Cidade Heróica.

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