Danças e Ritmos
As danças ocupam um espaço nobre dentro do
tradicionalismo gaúcho. Tanto como expressão de emotividade quanto uma
manifestação de arte, que requer técnica e habilidade. Desde os primórdios, a
dança se constitui num exercício para corpo e um descanso para espírito. A
topografia do terreno, a vestimenta, o espírito, a idiossincrasia e a
emotividade do indivíduo, foram os pontos de apoio em que se assentaram as
bases para a formação coreográfica que se criou em cada setor do universo.
Segue algumas danças e ritmos:
Anu: Dança típica do fandango gaúcho, o anu foi
dança predileta do gaúcho Sul-Rio-Grandense, em meados do século passado. A
partir daí se amoldou às características desta nova geração coreográfica, com
nítida influência das danças platinas sob comando. É legítima dança de pares
soltos, mas não independentes.
Balaio: O balaio é brasileiro da gema e procede
do Nordeste. O balaio guarda nitidamente a feição de nossos velhos lundus que
criaram, no Nordeste do Brasil, o baião ou baiano. O nome “balaio” origina-se
do aspecto de cesto que moças dão as suas saias, quando o cantador diz: “moça
que não tem balaio, bota a costura no chão”. Trata-se de dança sapateada e, ao
mesmo tempo, dança de conjunto.
Bugio: Este ritmo puramente gaúcho, rude como
animal das indomáveis querências, brotou da gaita 48 baixos de Neneca Gomes –
Wencelau da Silva Gomes – nas serras de Mato Grande, 5.º distrito de São
Francisco de Assis, o umbigo Rio Grande do Sul, como denominava Getúlio Vargas
esta região. Muito popular nestes pagos por suas habilidades musicais, Neneca
Gomes procurou imitar o ronco do Bugio por volta de 1928, tendo em seguida
chegado numa espécie de canto cadenciado que levou o nome de “os Três Bugios”,
em homenagens a estes bichos domesticados que tinha em casa. A música
muito popular entre os gaiteiros da região missioneira de São Francisco de
Assis, Santiago. Bossoroca, Jaguarí e São Borja, ganhou impulso e notoriedade
maior a partir dos estudos musicais realizados por Paixão Cortes e Barbosa
Lessa e, posteriormente, com a gravação dos irmãos Bertussi e um pouco mais
tarde a divulgação feita pelo músico Leonardo. O Bugio é uma composição de
notas retratando a vida simples da campanha onde a dança permanece muito
cultuada embora a música tenha ganho as cidades. “O Bugio é cantado em diversas
facetas. Em momentos representa o piá arteiro, peão destemido, moço faceiro
etc. Noutra o próprio animal, numa defesa e valorização ecológica da fauna
gaúcha.
Cana-Verde: A “Cana-verde” chegou de Portugal,
e se tornou popular em vários estados brasileiros. Naturalmente foi adquirida
cores locais, em cada região e dessa forma produzindo variantes da
dança-origem. A coreografia foi a mais difundida no nordeste e litoral do Rio
Grande do Sul.
Chimarrita ou Chamarrita: Com os nomes de
Chama-Rita, foi introduzida pelos colonos açorianos ao inicio da formação do
Riu Grande do Sul. Desde a sua chegada, a “chamarrita" foi-se amoldando às
subseqüentes gerações coreográficas. Do Rio Grande do Sul (e de Santa
Catarina), a dança passou ao Paraná, ao Estado de São Paulo, bem como às
províncias argentinas de Corrientes e Entre-Rios, onde ainda hoje são populares
as variantes “Chamarrita e Chamamê”.
Chote de duas damas: Bonita variante do chote,
em que o homem dança com duas damas simultaneamente. Essa presença de duas
mulheres não é raridade: antigas danças germânicas também foram assim, os
platinos tiveram o “palito”, e na cidade de São Paulo dançou-se da década de 20
um “chote militar” com duas damas. Não necessita de melodia específica,
dança-se ao som de um chote comum. Por nós é dançada com partitura de “Chote
Laranjeira”.
Chote Inglês: Dança de salão difundido nas
cidades brasileiras ao final do século XIX. Suas melodias, excutadas ao piano
nos centros urbanos, chegaram a ser conhecidas no meio rural. Registramos
algumas variantes de chote inglês em várias regiões do Rio Grande do Sul.
Chula: Um dos mais importantes livros-de-viagem
referente ao Estado do Rio Grande do Sul – a “Notícia Descrita da Província do
Rio Grande de São Pedro do Sul,” escrita por Nicolau Dreys em 1817 e publicada
em 1839 - foi acentuado por uma passagem da obra, em que o viajante nos fala
que a sociedade dos gaúchos era uma sociedade sem mulheres. Naquela época,
“gaúcho” era um termo pejorativo indígena, homem sem lar e sem querência – bem
distinto do campeiro das estâncias, apegado à terra e à família. O tempo
passa-se em jogar, tocar ou escutar uma guitarra n’ alguma pulperia, e às
vezes, dançando chula, sem a participação de mulheres, enfim a chula é dança de
agilidade masculina ou de habilidade sapateadora, em que os executantes
demonstram suas qualidades individuais.
Dança dos Facões: Danças de esgrima, em que, ao
invés de porretes ou bastões, se usam espadas ou facas de verdade, são
registradas na Ásia, na Europa Oriental, na África muçulmana, em regiões onde
se encontram aglomerados predominantemente masculinas. Cada dançarino mune-se
de dois facões, afiados, e as evoluções exigem destreza, acuidade, reflexos
rápidos.
Malambo: Tradicional sapateado argentino,
executado apenas por homens. Do folclore o malambo passou ao teatro
tradicionalista argentino e hoje foi incorporado, com muito entusiasmo às
festas típicas dos tradicionalistas uruguaios e sul-riograndeses. Além de uma
melodia tradicional, inconfundível, há várias melodias de malambo criadas por
eméritos compositores platinos, dando oportunidade ao surgimento de notáveis
criações coreográficas, artísticas, onde os dançarinos fazem malabarismo com
base no tema folclórico original.
Maçanico: Com o nome “Maçanico” surgiu no
Estado de Santa Catarina e daí passou ao nordeste e litoral do Rio Grande do
Sul. É uma de nossas danças mais animadas. O nome maçanico é corruptela de
maçanico, ave das lagoas.
Pau-de-fitas: Nenhuma dança, como o “Pau-de-fitas”, pode merecer, com tamanha propriedade, o nome “dança universal”, e é de todo infrutífero, ao pesquisador, tentar buscar-lhe o ponto geográfico de origem, pois a “dança das fitas” parece surgir de todos os lados e em todos os povos. A tese mais acertada é a do folclore argentino Carlos Veja que vê na “dança das fitas” uma sobrevivência das solenidades de cultura às árvores, tão disseminada entre os povos primitivos.
Pau-de-fitas: Nenhuma dança, como o “Pau-de-fitas”, pode merecer, com tamanha propriedade, o nome “dança universal”, e é de todo infrutífero, ao pesquisador, tentar buscar-lhe o ponto geográfico de origem, pois a “dança das fitas” parece surgir de todos os lados e em todos os povos. A tese mais acertada é a do folclore argentino Carlos Veja que vê na “dança das fitas” uma sobrevivência das solenidades de cultura às árvores, tão disseminada entre os povos primitivos.
Pericóm: Como reflexo do que ocorrera em Paris
e em toda América, surgiu no Prata, na primeira dança de um conjunto chamada
“Pericom”. Da província de Entre-rios e a Banda da Oriental do Uruguai o
”Pericom” passou à campanha do Rio Grande do Sul. Na fronteira entre o Brasil e
o Uruguai.
Pezinho: O “Pézinho” constitui uma das mais
simples e ao mesmo tempo uma das mais belas danças gaúchas. Como dança e como
elemento de festas, foi e é ainda muito popular em Portugal e nos Açores, veio
a gozar de intensa popularidade no litoral dos estados brasileiros de Santa
Catarina e do Rio Grande do Sul.
Ratoeira: Dança em formação de roda, aparentada
com as cirandas, que se difundiu nas áreas de cultura açoriana do Estado de
Santa Catarina. No Rio Grande do Sul sua presença foi assinalada apenas no
litoral-norte e planalto de Vacaria
Rilo: Paris importou juntamente com as
contradanças uma dança da Escócia chamada ‘reel’ em formação de roda e
utilizando a figura do 8, com o nome ’ril’ a dança foi apreciada nos salões
brasileiros em meados do século passado e daí chegou aos meios rurais
rio-grandenses, onde a denominação foi aportuguesada para ‘rilo’.
Roseira: Uma das danças regionais sul-rio-grandenses onde se percebe maior parentesco com danças regionais de Portugal, numa confirmação de tese do foco de origem comum.
Roseira: Uma das danças regionais sul-rio-grandenses onde se percebe maior parentesco com danças regionais de Portugal, numa confirmação de tese do foco de origem comum.
Sarrabalho: É uma das danças gaúchas mais
características da geração coreográfica de pares soltos, com o homem parecendo
perseguir à mulher, ambos castanholando com os dedos, forte sapateado, tudo de
acordo com a longínqua origem ibérica.
Tatu, com volta no meio: Nos primeiros tempos, o “tatu”, como legítima dança do fandango, consistia num sapateado pelos pares soltos, sem maiores características. Posteriormente, o “tatu” sofreu a intromissão, em sua coreografia, da “Volta-no-Meio” – uma dança que tornou popular no Brasil em meados do século passado.
Tatu, com volta no meio: Nos primeiros tempos, o “tatu”, como legítima dança do fandango, consistia num sapateado pelos pares soltos, sem maiores características. Posteriormente, o “tatu” sofreu a intromissão, em sua coreografia, da “Volta-no-Meio” – uma dança que tornou popular no Brasil em meados do século passado.
Tatu Novo: Em 1954, quando da visita de Porto
Alegre da Sociedade Crioulla El Pericón, de Montevidéu, foi prestada uma
homenagem aos visitantes com uma dança nova, deliberamente montada pelo CTG
“35” para assinalar aquele grato encontro. Trata-se de uma adaptação à
música do “Anuário”, com base do antigo sapateado à gaúcha. Essa criação
coreográfica tornou a ser apresentada posteriormente, por outros grupos, e
ganhou nos círculos tradicionais o nome de tatu “novo”.
Tirana do Lenço: A “tirana” foi uma das danças espanholas mais difundida na América Latina. Afirma-se que a “tirana” nasceu em Madri, em 1773, lançada pela cantora Maria Rosário Fernandez, esposa de um ator cognominado “El Tirano”.
Tirana do Lenço: A “tirana” foi uma das danças espanholas mais difundida na América Latina. Afirma-se que a “tirana” nasceu em Madri, em 1773, lançada pela cantora Maria Rosário Fernandez, esposa de um ator cognominado “El Tirano”.
Caranguejo: Diz Oneyda Alveranga que o
“caranguejo foi popular no país todo e sobre ele há referência desde o século
XIX. É dança grave, de pares dependentes, lembrando uma muito possível origem
no minueto. No Rio Grande do Sul o primeiro registro musical foi feito por
Alcides Cruz, para o “Anuário do Rio Grande do Sul”, de 1903.
Rancheira: É uma versão da mazurca, muito
divulgada no séc. XIX em toda a comunidade européia. Este ritmo é também muito
conhecido no sul da Argentina como ranchera ou, inicialmente, “mazurca de
rancho”.No Rio Grande do Sul, segundo Paixão Cortes e Babosa Lessa, a divulgação
deste ritmo se deu em maior escala com o aparecimento do rádio, sendo uma
versão regional da mazurca polonesa. Sua coreografia é executada de três
maneiras: primeiro como uma espécie de valsa, típica da fronteira; depois, à
maneira serrana, a rancheira sendo dançada com maior vitalidade, com forte
marcação na primeira batida; finalmente, ela é dançada no litoral, onde sua
forma mais usada é a marchadinha, ou seja, com passos duplos de terol (segundo
Paixão Cortes e Barbosa Lessa são passos duplos de marcha), onde o homem
empurra e puxa a mulher e onde o par se segura nos cotovelos, como a Chimarrita
Balão (dança do folclore gaúcho).Na primeira maneira de dançar, ou seja, na
rancheira da fronteira, a marcação é como valsa, ma com a diferença de que é feita
uma forte marcação no primeiro passo, no tempo mais forte da música, maneira
esta mais utilizada na fronteira do Estado. A segunda é a rancheira serrana,
cujo passo é executado saindo do chão, com vitalidade e sendo mais pulada, mas
mantendo os passos da primeira. A diferença está na execução. A terceira
marcação possível é a de utilizar sua coreografia é de forma puladinha ou
marchadinha, como a utilizada no litoral do Rio Grande do Sul.
Chimarrita-Balão: A “Chimarrita-Balão” é
conhecida somente no litoral-norte e planalto-do-nordeste do Rio Grande do Sul.
“Balão” foi uma dança bastante vulgarizada em Portugal no Século passado, e
teve, no Brasil, variantes como ‘Balão-Faceiro”. Não encontramos, a não ser na
denominação, a mínima semelhança entre a “Chimarrita-Balão” e a tradicional
“Chimarrita”.
Chamamê: Ritmo originário da Argentina, a
difusão deste gênero de música na década de 40 se deve em princípio às
gravadoras de Buenos Aires e advento do rádio.No Rio Grande do Sul a entrada
deste ritmo se deve em muito a proximidade do Brasil e suas fronteiras com
países como a Argentina e o Uruguai. Outros gêneros de músicas como a Milonga,
o Tango e o Bolero tiveram e ainda têm influência direta na história da formação
musical do Rio Grande do Sul. Assim também o chamamê teve sua influência na
cultura musical do Estado, principalmente nos últimos vinte anos; foi um dos
que mais se popularizou, fazendo hoje parte de todo tipo de encontro onde
houver música regional.O chamamê dançado por argentinos ou uruguaianos, em que
a marcação também é ternária, assemelha-se à marcação da valsa, nada tem a ver
com as loucuras feitas hoje em dia nos nossos bailes, onde acabaram inventando
o chamachote ou choteme e, depois, na hora de dançar um chote, caminham como se
fosse um chamamê.Opções para figuras ou variações dentro do chamamê, seriam
algumas figuras de tango, que, mesmo antes de fazerem parte do tango, já
ilustravam as polcas, chamamês e milongas. Vale dizer aqui rapidamente sobre o
por quê motivo falo do tango: é que este surgiu primeiro como dança, mas depois
se casou com o ritmo do tango andaluz que chegou a região dos pampas. Antes os
passos, que depois virão a casar com o ritmo aprendido nos camdombes, eram
dançados pelos compadritos em ritmos da sociedade de então, entre estes o
chamamê.
Valsa: Walsem (em alemão= andar, peregrinar ou
dar voltas). Daí provém o nome valsa. A dança surgiu do antigo minueto, claro
que com forte influência de ritmos nacionais da Áustria como Leander e o
Deustscher, Tanz sendo a primeira dança de salão de pares enlaçados firmemente.
Nas primeiras notícias sobre valsa, temos menção de apresentações datadas de
1660 em Viena, difundindo-se no ínicio do século passado para a França e a
Inglaterra. Sendo esta dança tocada em compasso ternário allegro, sempre com
diversas partes.
Vanera: Origina-se da habanera, que é um ritmo,
cubano de danças e canções, nome este dado em referência a esta capital Havana
(La Habana).Seu compasso é binário, de moderado a lento ritmo que foi se
popularizar no século XIX e foi muito utilizado por compositores espanhóis e
franceses.No Brasil, influenciou não somente ritmos do Rio Grande do Sul, mas
também outros, como o samba-canção.No Rio Grande do Sul, a nossa vanera adotou
nomenclaturas diversas, como vaneirinha, vanerão ou, ainda, limpa-banco.Dançada
assim, com marcação 2 e 2, nos salões do Rio Grande do Sul, dançada puladinha
(no que lembra o passo do Bugio) ou arrastada, esta marcação é feita em
qualquer direção.O homem inicia com o pé esquerdo indo em diagonal; logo
depois, o segundo passo é dado para frente. Entre estes dois movimentos, o
outro pé desloca-se levemente em um pequeno arrastar.Os pés partem da posição
inicial já indicada nos fundamentos da postura, sendo que os primeiros passos
são feitos como se quiséssemos formar um horário de dez para as duas.
Milonga: É um ritmo argentino, mas de origem
africana e que surgiu no fim séc. XIX. Inicialmente era considerada vulgar. Seu
nome provém do dialeto angolano quimbundo e significa palavra. Foi esse nome
que o povo deu ao canto dos payadores. Nascida nos arredores de Buenos Aires,
alguns autores ainda alegam que teria surgido a partir da mazurca.A milonga foi
introduzida no Rio Grande do Sul inicialmente na fronteira, ao som do violão, o
acompanhamento predileto dos declamadores gaúchos.A milonga no Rio Grande do
Sul é dançada com a marcação de 2 e 1, duas marcações feitas com uma perna e a
outra fazendo deslocamento com um passo para frente ou para trás.
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