quarta-feira, 15 de maio de 2013



O TESOURO DE GARIBALDI

Essa estória escutei à beira de fogão a lenha. Contada por tias-avós; em noite de lua cheia; geada branqueando os campos... Frio de rachar! Muito chimarrão, para os homens; para as mulheres mate doce, com muita erva de chá: manzanilha, carqueja ou funcho. Nós crianças, acocoradas aqui e ali, somente olhávamos... Tal bebida nos era proibida; e escutávamos as conversas dos mais velhos. Olhos esbugalhados! Corações em sobressaltos, ainda mais quando caia alguma semente de “ocalito” sobre o telhado de zinco...
Mas vamos ao caso: a República Juliana fenecia. Garibaldi, junto com Anita resolveram emigrar para a Banda Oriental do Uruguai. A sorte estava virando para o lado dos monarquistas; estes tinham olhos e ouvidos por todos os rincões do Pampa.
Garibaldi consegue chegar até a fronteira, mas informado por amigos republicanos, resolve não fazer pouso em Jaguarão, pois sua presença, na cidade seria notada. Era muito perigoso, tão importante figura farroupilha cair em mãos imperiais. Melhor seria cruzar o rio num lugar mais distante e ermo, convenceram-lhe os amigos. O Passo do Centurião era o lugar perfeito para tal peripécia... Dali, Melo estava a algumas léguas...
O “passo” era,e felizmente ainda é, um local agreste e luxuriante, com mato muito fechado e, dizem com muita cobra urutú, a “cruzeira” "de los gauchos", de bote curto e certeiro. Havia também, para facilitar as montarias, um “empedrado” natural, típico “camino de los quileros”. Gente meio brasileiro, meu oriental, que desde que o mundo é mundo conheciam cada curva, cada camalote ou cada ilha do rio.
Mas Garibaldi foi descoberto. Com os imperiais em seus encalços, desesperado enterra todo seu dinheiro e pertences de valor - dizem que inclusive uma bandeira da República Rio-Grandense, presente do general Bento Gonçalves- em três grandes panelas de ferro e vadeia, junto com Anita o Jaguarão, somente com a roupa do corpo...
O tempo passou. Após escaramuças no Uruguai, Garibaldi toma o rumo da Europa, em direção a sua querida Itália, que nesse tempo ainda era composta de vários reinos, para participar de sua unificação. Bom, mas isso é outra história!
Passaram-se os anos e um dia, um pobre gaudério, que procurava uma rês desgarrada, achou numa das grotas mais perdidas do Passo do Centurião, junto ao pé de um velho e grande jerivá, semi enterrada, uma grande panela de ferro com muitas moedas de ouro! Era parte do tesouro de Garibaldi!
O sortudo mudou de vida! Comprou terras... Uma boa ponta de gado, Cavalo de patrão para ele e seus dois filhos.
A notícia do enriquecimento correu mundo. Um vizinho, homem “maleva”, inescrupuloso, de uma inveja medonha e com vários crimes nas costas, armou, junto com outros de sua laia, uma cilada para o estancieiro e seus filhos. Toda a espécie de judiaria e torturas fizeram com eles, para que confessassem! Onde estavam as outras duas panelas de ferro?
Se, conheciam onde elas se encontravam, o segredo morreu com os três...
Os corpos foram atirados num “perau” e viraram comida de peixe...
Contam que ainda hoje em noite de lua nova, três luzes vagueiam por entre os sarandís, que nascem junto as pedras do Passo do Centurião. Serão as almas dos três mortos guardando as outras duas panelas de ferro com o tesouro ou estarão elas, clamando por justiça?

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